Sou um fã confesso de Oscar Motomura, o considero um dos maiores pensadores brasileiros. Após ter feito o APG no Instituto Amana Key mudei minha forma de pensar sobre o mundo e sobre o papel que nos cabe como dirigente de empresas, a nossa responsabilidade vai muito além dos resultados, dos colaboradores e dos clientes. Harmonizar os objetivos da empresa com as necessidades da sociedade, do mundo, é um desafio de todos que fazem a Organização.
A revista época dessa semana tráz algumas perguntas respondidas pelo mestre Oscar que nos ajuda a pensar como podemos buscar essa harmonia e como podemos transformar o nosso trabalho mais prazeiroso, deleitem-se.
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Forme um time criativo
Se a empresa contratar somente pessoas conformistas e obedientes, terá padronização burocrática e clientes insatisfeitos, afirma o fundador da Amana-Key, um educador que já treinou mais de 30 mil executivos
Esta entrevista foi feita com perguntas de leitores enviadas pelo site www.epocanegocios.com.br. Todos os meses, aqui, uma personalidade do mundo do conhecimento responderá a questões dos nossos leitores Educador de altos executivos, o carismático Oscar Motomura sabe como cativar seus alunos. Pergunte a alguém entre os mais de 30 mil profissionais que já freqüentaram seus cursos e workshops na Amana-Key, instituição paulistana fundada com a sócia Deise Fukamati e especializada em gestão, estratégia, liderança e na reinvenção de organizações. Observador atento e perspicaz de como as emoções influenciam os negócios, esse administrador de empresas e psicólogo percebeu, há duas décadas, diversas tendências que só agora se materializam. Motomura concentra-se, sobretudo, no fator humano, como deixa claro nas respostas que deu às questões formuladas por nossos leitores.
“A essência da maestria é fazer acontecer com leveza e consciência” |
1>>> Como o senhor descreveria as competências essenciais para uma liderança eficaz? Existe alguma receita?
Marcos Moreira | Fortaleza, CE
Essenciais são as competências humanas, de quem “entende de gente” pela prática, numa grande diversidade de pessoas e situações. Que propicia, inclusive, diferentes encontros com seu próprio ego… Mas não há receitas (embora muitas empresas trabalhem com algum tipo de prescrição e, por isso, fiquem cegas para a essência das coisas). Quer uma dica? Desafie-se o tempo todo com questões que evitem acomodação em zonas de conforto: liderança visando a números ou bem-estar? Para si, para poucos ou para todos? Como seria liderar em contextos difíceis, de recessão, guerras, corrupção?…
2>>> Como um executivo ou uma executiva pode energizar sua equipe a fim de melhorar os resultados?
Nayara Cristina da Silva | Trindade, GO
Não há fórmulas. Tudo depende do contexto e das pessoas envolvidas. No fundo, os executivos sabem o que fará a motivação de seu pessoal ser potencializada. A hesitação e a insegurança estão associadas à falta de confiança na intuição e no que sentem, principalmente se as medidas imaginadas forem diferentes em relação às práticas mais aceitas no meio empresarial. Um ponto para reflexão nesse sentido: como gerar o tipo de motivação que os voluntários têm? Como motivar de maneira genuína, sem nenhum tipo de prêmios artificiais? Como motivar com foco em algo maior, para a sociedade e o planeta?
3>>> É realmente eficaz para a empresa ter uma política de treinamento de seus empregados?
José Carlos Lucena | Rio de Janeiro, RJ
Política no sentido de diretriz, filosofia de educação e desenvolvimento de pessoas para o futuro? Sim, com certeza. “Política de treinamento” como jeito oficial de fazer, que engessa, não. ( Melhor não ter, pois assim os próprios líderes tenderão a criar formas inovadoras e “sob medida” de capacitar suas equipes.) Treinamento no sentido de “adestramento”, condicionamento mecânico de pessoas, não. No sentido de acumular informação e conhecimento, não. Para usar bem o conhecimento a serviço do cliente e da sociedade, sim. Só teoria, não. Maestria em fazer acontecer, sim.
4>>> Como conciliar a necessidade de padronização nas empresas com criatividade e inovação?
Samuel Rezende | São Leopoldo, RS
Antes de tudo, com o essencial: um time de pessoas criativas. Mesmo com muita padronização, elas tenderão a inovar. Se a empresa seleciona somente pessoas conformistas e obedientes, terá padronização burocrática e insatisfação dos clientes. Procedimento-padrão só gera perfeição com máquinas. Se há pessoas envolvidas, o processo é “biológico” e precisa da engenhosidade humana para funcionar bem. E, no biológico, o fundamental é ter princípios (que padronizam a essência e não a forma, e deixam espaço para o “sob medida”).
5>>> O RH pode identificar talentos natos que não comprovam qualidades no currículo?
Eduardo Reis | Rio de Janeiro, RJ
Vejo a capacidade de detectar talentos mais freqüentemente em empreendedores de grande sucesso (talentos detectam outros talentos?). Livres das “exigências institucionais” das grandes corporações, que tentam padronizar o processo de seleção e promoção de talentos, esses empreendedores podem se dar ao luxo de ser intuitivos ao montar suas equipes. Aqui, os gênios autodidatas têm mais chance. Mas é bom lembrar que os verdadeiros gênios criam as próprias oportunidades, quando decidem fazê-lo.
6>>> Como aliar produtividade e resultados exigidos pela empresa à qualidade de vida e bem-estar da equipe?
Edson Bucci | Campinas, SP
Em teoria, uma coisa deveria alavancar a outra. A pergunta provavelmente nos remete aos extremos: métodos de atuar sobre produtividade que comprometem o bem-estar da equipe, e o contrário (equipe muito bem e produtividade em declínio). O desafio é de equilíbrio e de criatividade radical, “fora da caixa”. E não mirando o nível de 50/50, mas de 100/100 (máxima produtividade e máximo bem-estar). E isso só se consegue se todos (da cúpula à base) trabalharem a equação 100/100 em conjunto.No fundo, não é difícil chegar ao ponto ideal. Difícil é assegurar que a cúpula participe desse processo de criação conjunta.
7>>> Qual a sua avaliação a respeito das ações de responsabilidade social das empresas no Brasil?
Roberto Linhares | Belo Horizonte,BH
Vejo com otimismo. Fala-se mais a respeito e o tema (assim como o da responsabilidade ecológica) está mais explicitamente na mesa de decisão.Algumas empresas estão totalmente engajadas, da cúpula à base, tanto no social como no ecológico. E é algo genuíno. Em outras, é algo parcial, tímido, controverso. Há ainda outras que fazem só o que dá ganho de imagem. Não é autêntico. E, é claro, temos as que nada fazem e assumem que nada têm a ver com o assunto. No fundo, trata-se de algo complexo. Uma mudança cultural de toda a comunidade de negócios. E temos como acelerar.
8>>> Como empreender um negócio econômica e ambientalmente sustentável, num mundo cada vez mais disperso pelos avanços tecnológicos?
Gledson Silva | Brasilia, DF
Sendo uma pessoa centrada em um propósito maior, com a intenção genuína de servir à sociedade e ao planeta. Tendo isso como núcleo de tudo, torna-se possível “surfar” nesse mundo disperso, diverso, em contínuo processo de transformação, dependendo cada vez menos de uma “ordem hierárquica.” E contando cada vez mais com o poder aglutinador dos propósitos que visam ao bem comum e à força da auto-organização. E quanto às competências para “surfar” com grande eficácia nesse ambiente fluido e em contínua mutação? Essa deixo para você pensar…
9>>> Como formar empreendedores se há tão pouco sendo desenvolvido com as crianças nas escolas?
Zailton Cardoso de Miranda | Lorena, SP
Nosso maior desafio está na educação. Mas na educação de todos, principalmente de adultos em todas as áreas e profissões. Educação e reeducação inclusive de líderes no governo, nas empresas, nas escolas, na sociedade como um todo. Como falar de crianças sem tratar da educação, reeducação dos próprios pais, dos próprios professores? Como falar do pouco que se faz pelas crianças sem tratar do muito que se faz pela deseducação delas no dia-a-dia? Como podemos sair dos diagnósticos e críticas e partir para as soluções? Não seria o que os cidadãos-empreendedores fariam?
10>>> Qual a melhor herança que podemos deixar para nossos filhos?
Sergio Lazzari | São Paulo , SP
Em minha opinião, é a capacidade de fazer acontecer, que é chave em qualquer atividade. Mas há jeitos e jeitos de fazer isso. Fazer com consciência significa levar em conta o bem comum (a essência da ética). E fazer com leveza (em contraposição a fazer com excesso de esforço e estresse) é a essência da verdadeira maestria. Nosso melhor legado é assegurar que desde pequenos nossos filhos sejam polidos nessa competência, nesses valores, nesse jeito de ser. Não dá para deixar isso para a escola nem para a faculdade…
Mais algumas perguntas respondidas por Oscar Motomura:
Um bom líder deveria estudar Psicologia para melhor administrar sua inteligência emocional e social?
Márcia Rezende – São Paulo (SP)
Oscar Motomura – Psicologia e também Filosofia, Sociologia, Antropologia, Política, Diplomacia, Teologia, Biologia, Nova Ciência, Artes…? Mais leituras diversificadas? Conhecer pessoas de outras culturas, todos os níveis sociais, de diferentes regiões, diferentes religiões? Num mundo cada vez mais fragmentado, há carência de líderes mais redondos, mais conectados à vida em seu sentido mais amplo. Ponto para reflexão: Como pessoas excepcionais, que até lideram comunidades em condições muito difíceis, são 360 graus e têm refinado nível de inteligência emocional e social, quase sem terem tido educação formal…?
Como profissionalizar uma empresa familiar na qual os donos não querem deixar o poder?
Geraldo Corrêa – Barretos (SP)
Motomura – O risco maior está na mudança cultural abrupta que pode fazer a organização perder força e decair. O exemplo clássico é o da empresa familiar fundada e dirigida por empreendedores durante décadas, que se profissionaliza e traz profissionais de mercado que não são empreendedores. Se, entretanto, os profissionais forem muito bem escolhidos, tudo bem. Fica só a questão do poder. As resistências iniciais dos que têm de abrir mão do poder são absolutamente normais e é algo da natureza humana. É preciso administrar a transição com muito respeito por todos.
Como deve ser o fluxo de informação da empresa para obter respostas rápidas?
Luciano Rieth – Curitiba (PR)
Motomura – Deve- se honrar o equilíbrio entre baixa, média e alta tecnologia, “tecnologias humanas”, além de um excepcional cuidado com questões de natureza cultural (exemplo da diferença entre jovens e seniores e a questão da tecnologia). Importante aqui é focar o final do processo e fazer o design de trás para frente. O objetivo-fim de tudo é a velocidade e qualidade das decisões-chave. Todo o sistema de informações deve estar a serviço disso e das pessoas-chave envolvidas (que devem participar intensamente do design).
Na sua opinião, muita teoria deixa as pessoas muito metódicas?
Bruno Mendes
Motomura – “Metódico” em que sentido? No sentido do aprendiz (teórico demais) querer que a realidade se ajuste à teoria que tem? Ou seria no sentido do excesso de teoria forçar a prática a se tornar estruturada demais e tirar a naturalidade do processo e a riqueza do resultado? Em minha opinião, as duas situações ilustram formas possíveis de fazer com que algo em grande parte intuitivo e extraordinário (o processo de como o ser humano aprende e evolui em contato com a realidade) venha a ser reduzido a um processo racional, mecânico e fragmentado.