Oscar Motomura

Data da publicação: 14/06/2007

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Uma das grandes experiências que tive na minha vida foi a participação em 2002 no curso APG do Amana Key em São Paulo. Foi nesta oportunidade que tive o primeiro contato com Oscar Motomura, na minha opinião um dos maiores pensadores do Brasil nas áreas de inovação, gestão e sustentabilidade. O curso é fantástico e indescritível, só fazendo para saber como é de fato, não tenho medo de falar que esta experiância mudou minha forma de pensar e agir em diversos aspectos da minha vida pessoal e profissional, diversos colegas que trabalham conosco já fizeram o curso : Cyro, Luciano Leão, Eduardo Assumpção, Astênio, Andréa Fernandes, Vladimir e outros que fizeram o APG Middle.

Dias atrás estava relendo alguns textos de sua autoria e fiquei impressionado o quão visonário ele é. Transcrevo abaixo uma pequena parte de um artigo escrito em 1999, observem o quão atualizado o mesmo ainda se encontra, se tiverem interesse de ler o artigo inteiro acessem o portal Exame e procurem a edição 685 de 7 de maio de 1999.

O futuro do Brasil e as nossas escolhas

“Neste ponto de nossa história, temos muita experiência com crises. Não me refiro só ao Brasil, mas à humanidade como um todo. Podemos imaginar crise maior do que uma guerra mundial? Não obstante as crises, a vida continua. A vida vai achando seus meandros. Ela quer acontecer. É como se fosse um grande jogo. O mais genial de todos os jogos. Mas não é o jogo da Economia, como muitos parecem acreditar. É um jogo muito mais amplo e complexo. Com regras que, na verdade, ninguém conhece. Talvez até alguns descubram. Mas não conseguem convencer os outros jogadores de que o que descobriram seja a base do jogo. É um jogo inexorável. Porque você não consegue deixar de jogar. Ficar parado também é uma jogada. E todas as jogadas têm conseqüências. Algumas instantâneas. Outras de longo, muito longo prazo, afetando muitas gerações.

O jogo parece estar se sofisticando. Está ficando cada vez mais complexo. E as jogadas estão ficando cada vez mais coletivas. As conseqüências idem. Até parece outro jogo. Um jogo muito diferente do que vínhamos jogando, embora sem entender todas as regras. Jogávamos com o que achávamos eram as “regras locais”. Mas o novo jogo parece ser também global. Mais e mais vemos que, na medida em que nos conectamos uns aos outros, dependemos mais uns dos outros.

Nesse novo contexto, continuamos a fazer escolhas. Diariamente. São sempre escolhas pessoais. Sim ou não? Deixo para depois? Vou mais fundo ou “toco” assim mesmo? Penso em mim ou em todos? E assim vai, em todas as searas de nossas vidas, seja no âmbito pessoal ou profissional, ou mesmo no âmbito político, enquanto cidadãos.

São sempre decisões pessoais. Mesmo quando representamos coletividades, como presidente, como ministro, diretor do FMI etc. (É por isso que dou grande valor às relações face a face. O resultado sempre depende dos fatores humanos, da confiança que se estabelece, do que se sente nas entrelinhas e do posicionamento pessoal de cada um). Na fração de segundo, na qual finalmente nos posicionamos e afetamos a vida de milhões, a escolha é do indivíduo. É aquele instante em que escolhemos expressar quem somos. Alguns buscam sempre expressar o melhor de si. Outros, em níveis ainda baixos de consciência, escolhem manifestar o lado sombrio de quem são. Escolhem o lado da ganância, da rigidez, do medo, da fragmentação, do ser pequeno.

As conseqüências de nossas escolhas podem ser enormes conquistas para a humanidade. Ou podem ser crises. Guerras. Enormes retrocessos. Com “avanços e retrocessos” (nunca sabemos bem o que são) o jogo continua. Um jogo que se auto-recria continuamente (até em função de nossas jogadas). Nesse jogo, as crises parecem até ajudar. Nos fazem acordar. Da acomodação. Da passividade. Do torpor que o lado sombrio gera.

A crise não é só brasileira. É mundial. No jogo da vida, este parece ser mais um momento importante de nossa História. Nas jogadas feitas nos últimos anos, muitos buscaram expressar o melhor de si. Outros deixaram o lado sombrio escolher. As conseqüências estão surgindo. Algumas ainda vão emergir. Há ganhos a curto prazo que são grandes perdas a longo prazo. E vice-versa. Essa parece ser uma faceta fascinante deste extraordinário jogo da vida.

Nesse contexto, a questão-chave para todos nós não é o que o futuro reserva para o Brasil. É o Brasil que queremos construir a partir de nossas escolhas. Criticar ou agir? Isolar-se ou participar? Tirar vantagem ou ajudar? Ganhos materiais ou qualidade de vida? Pensar só em si ou deixar um legado positivo para as futuras gerações? Administrar a economia ou ajudar a construir um Brasil e uma sociedade mundial melhor para todos?

A propósito qual será a sua escolha no próximo movimento do jogo da vida?”.

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