Pan, Voley, relação chefe x subordinado, feedback, ou seja , salada geral !

Data da publicação: 24/07/2007

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Sou fascinado por esportes e o Pan tem sido um prato cheio para quem gosta do assunto : inúmeras modalidades, tudo muito bem organizado (o Rio e o COB estão de parabéns), o Brasil fazendo um bonito papel ganhando diversas medalhas, a nossa torcida dando um show (a única exceção foi o incidente no Judô no último domingo), ou seja, tem sido um espetáculo de encher os olhos. Eu sei que tivemos problemas de estouro de orçamento (questão que precisa ser investigada e esclarecida tão logo acabem os jogos, se parte desse dinheiro tivesse sido aplicado na melhoria do sistema aéreo … deixa para lá …) e que vários atletas de ponta das Américas não estão participando dos jogos, o que facilita bastante as coisas para o Brasil (principalmente os atletas dos EUA do atletismo, natação, tênis, basquete e ginástica), pelo amor de Deus  não dá para querer comparar Thiago Pereira a Mark Spitz … mesmo assim não dá para não se sentir orgulhoso e de acreditar que podemos sim, quando queremos, ser um país do primeiro mundo, o esporte consegue esse milagre, trazer alegrias e senso patriótico (pelo menos até Pequim/2008) num momento tão triste e tão deprimente da história do Brasil.

Poderia escrever horas aqui sobre as competições, resultados e destaques, porém o que quero chamar a atenção é sobre o surpreendente corte do levantador Ricardinho do time de Voley masculino do Brasil. Surpreendente por estarmos falando de uma briga onde temos de cada lado do episódio duas das figuras mais vitoriosas e reconhecidamente mais competentes da história do voley brasileiro. Temos de um lado um técnico que ganhou tudo que disputou nos últimos 08 anos, foram 7 títulos da Liga Mundial, 02 Campeonatos Mundiais e uma olimpíada, nunca na história do voley uma seleção foi tão absoluta, tão imbatível como a do Brasil, coincidência ou não, o único título que Bernadinho não ganhou foi o Pan-Americano devido a uma enorme bobeada em Santo Domingo, ou seja, o Pan do Rio estava, e ainda está, marcado para ser a apoteose desse time fantástico. Do outro lado temos Ricardinho, o melhor levantador do mundo, eleito o melhor jogador da última Liga Mundial, o cérebro do time, o jogador que reinventou a forma de jogar voley no mundo ao imprimir enorme velocidade às jogadas de ataque, desmontando por completo a tendência que vinha predominando de se jogar apenas usando a força e a altura de jogadores com mais de 2 metros de altura, jogadores cada vez mais parecidos com os brutamontes do basquete .

O que deu errado ? o que causou essa ruptura ? é sobre isso que tentarei falar um pouco. A relação técnico x jogador é muito parecida com a relação gestor x colaborador, em ambas situações questões como autoridade, disciplina, foco, manutenção do espírito de equipe, planejamento, táticas, vaidades e disputas de poder estão presentes. O convívio por um longo tempo e a percepção de reconhecimento também são aspectos que tornam essas relações complicadas. Com relação ao reconhecimento, algumas versões que correm na imprensa dizem que a divisão dos prêmios entre os jogadores e a comissão técnica foi um dos estopins da crise.

Deixando de lado as questões financeiras, não tenho dúvidas que Bernadinho e Ricardinho se admiram, que são amigos e que são gratos um ao outro por todo sucesso que atingiram, porém, também não tenho dúvidas que em algum momento a hierarquia foi quebrada e a amizade e a admiração foram confundidas com fraqueza de comando. Nesta situação não há outra saída, ou o Gestor se impõe e mostra quem é o responsável pelo time ou ele perde o comando do time inteiro. Ricardinho é um excepcional jogador porém não ganha jogos sozinhos, entre perder um jogador fora de série e perder outros 11 jogadores fantásticos, Bernadinho optou pela primeira opção, concordo com ele e faria o mesmo, ninguém por melhor que seja é insubstituível, ninguém por melhor que seja consegue resultados sozinhos seja na vida profissional ou no esporte. Mesmo os atletas dos esportes individuais como natação e atletismo, precisam de técnicos, de médicos, de psicólogos, de fisioterapeutas. É o grupo, coeso, coordenado e com planejamento prévio que atinge os resultados, quem vai subir ao pódio para receber a medalha é um mero detalhe.

Apesar de não acreditar que esse seja o caso neste conflito, vou aproveitar o tema para falar sobre outro ponto crítico na relação entre os Gestores e os Colaboradores : o feedback. Conviver com um chefe que não ouve, não ensina e nunca diz para onde caminha o negócio é uma situação recorrente no mercado de trabalho. Quem nunca se sentiu diminuído, injustiçado ou simplesmente ignorado pelo seu superior, pelo menos uma vez, que levante a mão. Essas poderiam até ser situações do passado diante de um mundo corporativo redesenhado pela tecnologia, onde os profissionais têm mais liberdade e se orgulham em dizer que dirigem a própria carreira. Mas não são.

Pesquisa realizada pela rede de network “To the Top” , mostra que o relacionamento com os chefes continua difícil, apesar das recentes mudanças no mundo do trabalho. Mais da metade dos 254 participantes afirmaram já ter pensado em mudar de emprego por problemas com a chefia. E a maior crítica em relação aos superiores é sobre o feedback. Quem trabalha quer saber se o que está fazendo faz sentido na empresa, quer incentivo, motivação.Vários estudos já mostraram que as relações pessoais imperam no mercado de trabalho brasileiro, o que segundo os entrevistados, acaba atrapalhando o feedback. Chefes e subordinados serem amigos é extremamente salutar, o que não pode é essa amizade ser um obstáculo às críticas e correções de rumo necessárias.

Outro problema apontado pela pesquisa, que incomoda boa parte dos subordinados, é a centralização das decisões e informações. O chefe inseguro em relação ao grupo centraliza e acaba assoberbado, perdido no operacional e sem tempo para ter uma visão mais macro do negócio. Existe uma grande diferença entre você orientar e fazer o trabalho, o equilíbrio é a melhor solução para os dois lados. Sem esta percepção, o profissional júnior acaba sem aprender, não cresce, e o sênior dedica menos espaço do seu dia-a-dia ao gerenciamento de atividades que realmente interessam. O que os profissionais esperam do chefe além de dividir mais responsabilidades é que ele saiba explorar ao máximo as suas habilidades.

Algumas vezes o feedback tem que ser arrancado. Não fique acomodado se seu chefe não exercita esta prática. Entre na sala dele, feche a porta, sente-se em sua frente e diga com segurança e propriedade : Preciso receber um feedback sobre meu desempenho e sobre as perspectivas que a empresa tem com relação a minha pessoa. Se você não tem recebido feedback, pode ter certeza, a culpa também é sua.

Bem … finalizando, acredito que o Brasil vai ganhar a medalha de ouro no Pan mesmo sem Ricardinho, que na próxima convocação Ricardinho vai ser chamado por Bernadinho e que eles vão se entender e que meu nível de feedback aos meus subordinados está satisfatório, se algum de vocês estiver lendo e não concordar com essa última afirmação, podem chutar a porta da minha sala e exigirem seus direitos !!

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