Ser pai é padecer no paraíso …

Data da publicação: 12/08/2007

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O assunto hoje não podia ser outro … quero fazer uma singela homenagem a todos os pais! tá certo que ser mãe é difícil, a gravidez é um processo que exige muito da mulher, sua dedicação nos primeiros meses amamentando, acordando a noite, e tendo que cuidar da casa ou, na maioria das vezes, continuar trabalhando, é de fato coisa de heroína ! mas, ser pai também não é para qualquer um ! quer dizer … ser pai mesmo ! não é só fazer, tem que criar ! posso falar com propriedade pois tenho nada mais nada menos que 04 (quatro) filhos, por enquanto …  Mariana (18), Arthur (16), Mario Victor (8) e o Luca (7 meses). 

Pensando sobre o assunto, percebo hoje que a minha forma de encarar e de curtir “ser pai” foi mudando ao longo da minha vida, meus dois primeiros filhos chegaram quando eu tinha pouco mais de 20 anos, estava focado em firmar-me profissionalmente, viajava bastante e a bem da verdade acho que na época não tinha a exata noção da enorme responsabilidade que tinha. O terceiro chegou quando já tinha passado dos 30, estava mas maduro, já com alguma experiência, pude curtir muito mais a fase mais gostosa que são os primeiros anos, o aprendizado da fala, o aprender a andar, foi muito legal … Já o quarto me chegou logo depois de eu ter completado os 40 anos,  apesar de experiente e consciente da responsabilidade que é prover as condições necessárias para que uma criança desenvolva-se nesse mundo cada vez mais complicado, não deixei de ter um friozinho na barriga de ter que começar tudo de novo… porém apesar de saber que lá fora tudo é muito mais arriscado, que a competição é muito mais intensa, sinto-me muito mais tranquilo, com muito mais segurança e podendo curtir o meu filho com mais prazer.

Considero-me um pai priveligiado, consigo aproveitar ao mesmo tempo todas as diferentes fases dos filhos : Converso com Mariana e Arthur  sobre o futuro profissional deles, sobre suas escolhas e sobre seus relacionamentos, nos tratamos como verdadeiros amigos, ao mesmo tempo brinco de bola, de video game e assisto os jogos do Vasco com Mario Victor, vibro com seu crescimento físico e mental e para completar ainda curto de montão as risadas, as caretas, os sons ininteligíveis e o cheirinho gostoso de bebê do Luca, o sorriso que ele dá quando me vê acaba com qualquer mal humor.

Para finalizar reproduzo abaixo o artigo da Bya Luft da Revista Veja dessa semana, ela fala tudo que eu gostaria de falar de uma forma tão bem escrita que nem que eu passasse anos tentando eu conseguiria, faço minhas as palavras dela, é claro que não poderia esquecer de mandar um beijo e um abraço para o grande Mario Alves, parceiro, amigo e meu maior torcedor, tenho orgulho de ser seu filho ! beijão meu Pai !

 Sobre o papel do pai

“Nunca, neste mundo tumultuado, perigoso e tão
fascinante, o pai foi tão importante. Não importa
se é pai separado, pai solteiro, pai sem grana, pai
sem graça ou pai que a mãe procura diminuir”

Deixei de lado o artigo em que ia retomar temas por demais recorrentes que me entristecem, como os mortos das duas tragédias aéreas recentes. Tragédias que eram esperadas, como a indignação que desencadearam, porque o caos aéreo vinha sendo denunciado havia tempos. Até nosso presidente, em 2002, ainda candidato, publicou um veemente artigo sobre “a morte anunciada da aviação brasileira”, exigindo providências. Mas até dias atrás nada tinha sido feito ainda.

Vou tentar – sou má cumpridora de meus propósitos – focar a atenção nos meus temas queridos, vida e morte, relacionamentos humanos, o mistério de tudo e o sentido de algumas coisas. (Antes, desejo boa sorte ao novo ministro, o que não diz bobagens a cada duas frases, o que tem autoridade, energia e boa vontade, e talvez consiga começar a botar nos trilhos o que anda à deriva por aqui. Porque a gente precisa não só de uma tábua de salvação, mas de uma ilha inteira, um continente.)

Falarei do assunto mais óbvio, nesta véspera de Dia dos Pais: este não precisa ser um tema sentimentalóide ou artificial. Pode ser provocador, mexer com nossos sentimentos, com nossa culpa e desculpas… e por isso escrevo. Estive recentemente num aeroporto esperando uma pessoa. Junto a mim, uma jovem mãe com sua filhinha de uns 4 ou 5 anos. De repente, desembarcou um grupo, vindo pela sala da esteira, e a menina correu para o vidro que a separava de onde devia estar seu pai. Ficou atenta, olho arregalado. Então a mãe disse alto e claro apontando para alguém: “Olha ali, o boca-aberta do seu pai!”. Meu coração bateu em falso. Que representação da figura paterna aquela moça passava para a criança, talvez sem se dar conta, por ignorante, ou de propósito, por magoada? Doeu-me ainda mais quando vi um rapaz de cara iluminada vir ao encontro delas, pegando nos braços, cheio de ternura, a filhinha que esperneava de alegria.

É duro o papel do homem na família. E não me critiquem – ou me critiquem à vontade – as mães metidas a mártires, que por interesse ou covardia ficam ao lado de um homem a quem desprezam, que querem cooptar os filhos por frustradas e alijar emocionalmente o pai, mostrando-o como mero provedor. Afinal, a gente precisa dele. Sempre me impressionou a solidão dos homens, medida também da solidão de suas mulheres, que têm uma poderosa ponte afetiva para filhos, famílias, amigas ou vizinhas, algo que o marido raramente tem.


Lembrei-me, naquele dia e muitas vezes, da importância da figura paterna – portanto, masculina – em minha vida. Quando eu era criança, o carro de meu pai entrando pelo portão, seu passo no corredor, o cheiro de sua água-de-colônia, sua máquina de escrever batucando noite adentro na biblioteca do outro lado da parede do meu quarto, tudo isso era mais que metade da minha segurança e felicidade. Seu jeito de falar comigo, nunca como se eu fosse uma criança boba, mas uma pessoa, suas respostas às minhas eternas curiosidades, seu acolhimento, sua paciência, até sua brabeza. Sua preocupação comigo, sua severidade em questões de vida escolar (em que eu era apenas sofrível), seus elogios e seu interesse, tudo me marcou tanto que ainda hoje, tantas décadas depois, me pego pensando: o que será que ele diria disso? O que me aconselharia? Que palavras escolheria para me confortar, animar ou até censurar?

O personagem positivo, amoroso, do pai que cuidava sem podar, atendia sem cobrar, acompanhava sem aprisionar, e me fazia sentir uma princesa mesmo que estivesse atrapalhada, é fundamental para minha relação com o mundo, sobretudo com o masculino. Não conheci o homem arrogante e bruto, egoísta, tirano, infantilóide ou metido a garotão, de que tantas mulheres se queixam, como pai ou companheiro, e por isso lhe agradeço ainda hoje. Conheci o masculino confiável – não perfeito, porque apenas humano, mas presente e bom. Por isso, possivelmente, não cresci desconfiada dos homens, nem agressiva, nem irônica. Não por virtude minha, mas pela beleza e bondade daquela presença primeira.

Nunca, neste mundo tumultuado, perigoso e tão fascinante, o pai foi tão importante. Não importa se é pai separado, pai solteiro, pai sem grana, pai sem graça, pai sem muito jeito, pai que a mãe procura diminuir, ou pai amado e feliz. O amigo, o orientador, que dá apoio, que confia, que indica os caminhos (e nos ama mesmo se não seguimos por eles), é um bem inefável. Todo pai devia se orgulhar e se comover por ter esse papel. Com defeitos e dificuldades, como todo mundo, sendo apenas um pobre ser humano como todos nós, o pai tem de ser glorificado, procurado, amado, aplaudido, pelo menos no dia a ele dedicado. E, se puder ser, de um jeito ou de outro, todos os dias, é o que a gente – mulheres, homens, filhos e filhas – merece e devia tentar.

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